14/02/2013

O Vintismo em Portugal (Bárbara, nº3)


Introdução:
O Vintismo foi um Liberalismo de tipo radical que vigorou em Portugal através da Constituição, entre 1822 e 1826, embora ameaçado por golpes absolutistas desde 1823. Foi uma tentativa liberal radical de recuperar as liberdades perdidas durante os governos absolutistas anti-liberais e de pôr em prática os ideais iluministas.
As invasões francesas e a proteção britânica ditaram a eclosão da revolta de 1820, no Porto.


Situação do país anterior ao Vintismo
O contexto político do país que antecedeu ao Vintismo caracterizava-se por um regime absolutista e uma sociedade típica de Antigo Regime. As atividades primárias predominavam e, fundamentalmente, os camponeses, eram sobrecarregados com pesadas obrigações senhoriais, o que os conduzia cada vez mais à miséria.
O rei e a família real embarcaram para o Brasil em 1807, que de colónia passou a sede de Governo, o que permitiu a Portugal manter a independência do Estado. 
Deram-se as invasões francesas, entre 1807 e 1810, originadas pela “desobediência” de Portugal face ao Bloqueio Continental decretado pelo governo francês de Napoleão Bonaparte, que nos ordenava o fecho os nossos portos à Inglaterra, nossa aliada há séculos. 



As três invasões napoleónicas a Portugal, comandadas, respetivamente, pelo general Junot, pelo marechal Soult e pelo marechal Massena, deixaram o nosso país numa situação de crises ainda mais agravadas, devido à destruição e à devastação causadas pelas invasões. A agricultura, o comércio e a indústria foram profundamente afetados. 



Portugal ficou então sob o domínio político e económico da Inglaterra, sendo o chefe do nosso governo o general inglês Beresford. 
Para esta situação de crise contribuíram a abertura dos portos brasileiros, em 1808, ao comércio internacional, o que veio prejudicar o comércio português, assim como o Tratado Comercial luso-britânico, em 1810, que foi como uma confirmação do Tratado de Methuen, pois favorecia a fácil entrada dos têxteis ingleses em Portugal, prejudicando assim a nossa indústria. 
Todas estas situações conduziram a um sentimento de revolta, especialmente entre a burguesia. Em 1817, foi fundado, pelo desembargador da Relação, Manuel Fernandes Tomás, o Sinédrio, que era uma associação secreta cujos membros pertenciam à Maçonaria e defendiam os ideais liberais. Esta associação propunha-se a intervir na má situação que o país vivia, o que acabou por acontecer em 1820. 




O despontar da Revolução 

O general Beresford teve de se deslocar ao Rio de Janeiro, para pedir dinheiro ao rei para pagar as despesas militares,  e a sua ausência favoreceu a ação do Sinédrio, cujos membros começaram a aliciar figuras militares com vista a obter a sua ajuda para dar início à Revolução Liberal, que viria a ocorrer a 24 de agosto de 1820, no Porto.




Revolução Liberal de 1820

A Revolução Liberal Portuguesa teve início a 24 de agosto de 1820, no Porto, e foi essencialmente um pronunciamento militar e permitiu assim uma ampla união de interesses. O seu sucesso pode ser explicado com a revolta do povo português contra a tamanha e influente presença britânica em Portugal. 


Os revolucionários apelavam à aliança do rei com as forças sociais representadas nas Cortes, assembleia que não era reunida no Regime Absolutista. Apelavam também à convocação de novas Cortes, das quais esperavam uma Constituição baseada nos ideais liberais, que fosse defensora dos direitos da Nação  e de uma governação justa e eficaz.
Assim, por todo o país, a Revolução encontrou adesão imediata. 


O Vintismo


O Vintismo português foi instituído na sequência desta Revolução Liberal de 1820, e a partir deste foi consagrada a Constituição de 1822. 
Caracteriza-se pelo radicalismo das suas posições, ao instituir a soberania popular, ao limitar o poder real e ao não reconhecer qualquer situação de privilégio à nobreza e ao clero, que até ali eram os grupos privilegiados. 
É encarado como um movimento renovador da sociedade portuguesa, que vivia um caos político, em que a sua corte se encontrava longe da metrópole.
Depois da revolta de 24 de agosto de 1820 no Porto, logo outra ganhou forma em Lisboa, a 15 de setembro do mesmo ano. 
O Vintismo continuava então de pé, suportado pelas Cortes Constituintes, que nomeiam a regência para o reino e apoiam as tentativas de governo constitucional. 


A Constituição de 22

A Constituição de 22 foi elaborada pelas Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa. Foi assinada pelos deputados e jurada pelo rei D. João VI: 



  •  Reconhece os direitos e deveres de cada um, garantindo a liberdade, a segurança, a propriedade e a igualdade perante a lei; 
  •  Afirma a soberania da Nação;
  •  Aceita a independência dos poderes legislativo, executivo e judicial - tripartição dos poderes;
  •  Não reconhece situação de privilégio à nobreza e ao clero; 
  •  Submete o poder real à supremacia das Cortes Legislativas;
  •  Extinguiu a Inquisição e o pagamento do dízimo;
  •  Aboliu os privilégios senhoriais e os monopólios régios;
  •  A religião católica foi definida como a única da Nação (falta de liberdade religiosa);
  •  Extinção da censura;
  •  Instituição da liberdade de imprensa e do ensino.

Organização Política:

  • Afirmou a soberania da Nação e instituiu uma monarquia constitucional;
  • O poder legislativo cabia às Cortes reunidas numa só Câmara, cujos deputados eram escolhidos por sufrágio universal e direto por homens com mais de 25 anos que soubessem ler e escrever;
  • O poder executivo cabia ao rei, no entanto, submetido ao poder das Cortes;
  • O poder judicial cabia aos Tribunais.



Esta Constituição, tal como o próprio Vintismo, foi demasiado progressista para a época. 


Em síntese:
A Constituição de 22 surgiu em resultado da Revolução Vintista, em 1820, para concertar as desgraças públicas, que os revolucionários acreditavam ter origem no desprezo dos direitos do cidadão e no esquecimentos das leis fundamentais da Monarquia. A Constituição Política foi decretada com vista a assegurar os direitos de cada um e o bem-estar geral de todos os portugueses.
Foi posta em prática e jurada pelo rei D. João VI, embora a sua esposa, a rainha D. Carlota Joaquina, se recusasse a fazê-lo.
Esta Constituição foi vista como uma das “vitórias” políticas dos revolucionários liberais e vintistas.


O fracasso do radicalismo vintista


O triunfo dos liberais e a consequente aprovação da Constituição de 22 não agradou aos grupos privilegiados, o clero e a nobreza, pois viram-lhes serem retirados muitos dos seus privilégios. 
Assim, estes grupos queriam voltar ao Absolutismo. Deu-se então uma oposição aos liberais por parte dos absolutistas, liderados por D. Miguel, filho segundo de D. João VI, levando a cabo a contrarrevolução absolutista: a Vila Francada, em 1823, e a Abrilada, em 1824. Estes foram os dois movimentos que acabaram por pôr fim ao Vintismo.
Apesar das boas medidas que as Cortes legislaram para reformar a sociedade desigual que encontrávamos até ali, a ação vintista revelou-se, muitas vezes, contraditória, pois defendia justiça e igualdade e, no entanto, acaba por pender a favorecer os interesses dos burgueses. Vemos isso, por exemplo, nas medidas protecionistas tomadas. 
Com esse protecionismo, defendiam os interesses dos proprietários rurais, que afastavam a concorrência e vendiam os seus produtos por bons preços.



As dificuldades de afirmação do Regime Vintista


  • O radicalismo vintista fez-se sentir nas fortes oposições e tensões criadas pelos absolutistas. Foram vários os motivos que levaram ao fracasso desta Revolução Vintista, entre eles:
  • O descontentamento do clero e da nobreza devido à abolição dos seus privilégios; 
  • A aplicação de uma legislação económica que favorecia a burguesia; 
  • A recusa da rainha e do príncipe D. Miguel em jurarem a Constituição; 
  • A restauração do Absolutismo em França; 
  • Descontentamento inglês com o ataque vintista à sua presença em Portugal;
  • A burguesia era pouco dinâmica;
  • A fraca adesão e descontentamento do povo face às medidas tomadas pelas Cortes, pois beneficiavam fundamentalmente a burguesia;
  • A independência do Brasil.

O Liberalismo em Portugal enfrentou problemas como:
  • A oposição da Santa Aliança (composta pela Rússia, Prússia e Áustria), que pretendia eliminar os vestígios da Revolução Francesa por toda a Europa;
  • O bloqueio comercial ao nosso país pelos países defensores do Absolutismo;
  • O apoio financeiro e militar aos absolutistas portugueses.


Conclusão:
O Vintismo conheceu várias fações ao longo da sua época, em Portugal. O seu fim como primeiro momento do liberalismo em Portugal deu-se com o golpe da Vila Francada, em 1823, uma revolta que surgiu na sequência da reposição do regime absolutista em Espanha.
A Carta Constitucional de 1826 substituiu a Constituição de 22 e tentou conciliar medidas liberais e absolutistas.


Webgrafia:
  • http://www.slideshare.net/carla77/a-reaco-absolutista
  • http://www.infopedia.pt/$vintismo
  • http://www.slideshare.net/carla77/vintismo
Bibliografia:
  • Livro “O Tempo da História”, 11º ano
  • Apontamentos do caderno.


Bárbara Silveira, nº3, 11ºJ.

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